sábado, 9 de dezembro de 2017

Don't want fall in love (with you)

De todos os lábios que já me tocaram, acreditei nunca esquecer o toque dos teus.
Foram tantos anos até o primeiro encontro, eu era tão doce, ainda. Falava baixo e os palavrões não entrecortavam minhas palavras insanas, e eu ria um pouco alto, mas não de desespero, como às vezes acho que rio hoje.
E de todos as mãos que me acariciaram, por incontáveis noites eram as tuas que me assombravam: ora eu as queria e não as tinha, ora elas me degolavam, apunhalavam, enquanto acariciavam outro corpo que não o meu.
Das vozes... das vozes a tua é de longe a mais bonita, a que ainda gosto de ouvir. Não soa tão divina como naquelas noites, mais ainda traz um certo encanto pra mim, assim como teus olhos escuros, que antes me alumiavam, hoje apenas queimam de leve. E depois passa.
Eu te quis de corpo, de alma. Eu te quis como até então nunca experimentara. E eu me neguei pra você, bem sei como aquilo nos queimou, como aquilo me doeu o dobro de qualquer outra dor.
Eu sonhava com você, eu queria você.
Quando eu sorria mais aberto, as pessoas sorriam comigo, cientes de que era por você. Eu mudava, eu ficava serena, ao mesmo tempo que eu queimava - lembra quando você me disse como eu era quente? Tive vontade de te dar tantas respostas, naquele momento. E tantos beijos ali mesmo! De fechar a porta com você aqui dentro, de não te deixar a roupa intacta, de provar de você de novo. Mas eu não podia.
E não podia, mas queria, e queria tanto. Eu te quis madrugadas inteiras, enquanto você me falava da sua dor, enquanto falávamos de outras pessoas, de outros sonhos, de outras cores. De amor.
Eu tentava encontrar você nas entrelinhas, mas fui tendo cada vez menos lembranças.
A minha negativa e as constantes tentativas de não querer você foram pouco a pouco nos fazendo distantes. A tua busca não estava mais em mim, de repente, e eu senti cada ausência.
Eu tentei trazer você de volta: eu tentei sorrir, eu sussurrei, dancei. Me vesti de vermelho, te mostrei um esboço da alma.
Eu falei de coisas que até hoje duvido, eu sugeri muito. E então me dei conta de que já era tarde, pra nós dois.
Como era doce querer você, mas era tão pesado não ter.
Hoje, depois de tanto tempo, ao te ver tão ao alcance, teus olhos pequenos em mim, as pernas ainda bambearam um pouco, mas o fogo não acendeu de novo.
Finalmente a música que me trouxe você fez todo sentido pra mim: "No, I don't want to fall in love with you".
Saiu só um suspiro cansado, acho que queimei um pouco.
Mas eu segui rindo.
E leve.