quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Nossas mulheres

Uma tem olhos castanhos tão profundos como os abismos das galáxias
A outra carrega todo o verde que cabe num infinito
Uma fala da dor e da delícia de ser mulher
A outra, também
A de olhos castanhos, junta letras que falam de (des)amor
De morte, de solidão
Da falta de sexo, dos excessos
Da fumaça, do inseto, da selvageria do (des)amor
E de mulheres perturbadas
A outra, fala de (des)amor, de morte,
De solidão. Da selvageria do (des)amor
De unicórnios e lírios
E de mulheres perturbadas 
Uma é amiga da outra, como num ciclo que se completa
Num conjunto matemático, numa relação de pertinência

Uma delas me perturba:
Aqueles olhos imensos, puxados, profundos
São muitas as verdades indigestas dela que se parecem comigo
Suas palavras, então, apunhalam meu coração
E esganam a minha garganta, me fazem verter lágrimas de desconforto
Da outra, eu ouço tudo, com menos dor: as histórias da infância, dos bordados
Ouço os unicórnios clamando por amor e decidindo entre a vida e a morte
Eu sinto o gosto das frutas, eu passo horas inventando aquele azul

E eis que as duas nos unem no mesmo ciclo que se completa
Nesse conjunto matemático de pertinência:
Eu e ele, ele e eu.
Nossos dedos alucinados, datilografando as palavras que jorram da nossa alma
Eu sobre uma, ele sobre a outra
E a gente chora e ri, e se espreme na vida entre amor e lágrimas
Vivendo como num conto escrito por elas:
Um unicórnio não tão puro e uma mulher sedenta
Caminhando lado a lado, perdidos de amor
De lágrimas, perturbação
E verdades indigestas
Que a gente digere
Juntos.